Componentes à base de levedura aumentam a produção de leite
Melina Bonato e Liliana Borges (Departamento de P&D, ICC Brazil)
O objetivo da produção de laticínios é ter animais saudáveis capazes de atingir máxima produção com potencial genético ao menor custo. A saúde do animal é afetada por doenças causadas por patógenos, problemas metabólicos/nutricionais/reprodutivos/físicos e fatores de estresse (condições ambientais, manejo etc.). Quando falamos de ruminantes, além de pensarmos em melhorar a nutrição do animal, devemos pensar sobre a nutrição e a saúde do rúmen, considerando que o rúmen com uma flora bem nutrida, saudável e devidamente estimulada permite maiores taxas de produtividade associadas à melhor saúde animal. Neste contexto, o uso de ingredientes funcionais que proporcionam ganhos no desempenho e melhoria da saúde do animal tendem a se tornar itens essenciais na dieta do gado leiteiro.
A levedura tem sido amplamente utilizada na nutrição de ruminantes como aditivo funcional à ração, e há extensa literatura comprovando seus benefícios. RumenYeast® (ICC Brazil) consiste em levedura Saccharomyces cerevisiae pura proveniente do processo de fermentação da cana-de-açúcar na produção de etanol, e é submetida à autólise (rompimento da membrana celular) na qual o conteúdo intracelular é liberado. O produto final é altamente digerível porque também contém aminoácidos, peptídeos e polipeptídeos de cadeia curta, ácido glutâmico e a presença de parede celular de levedura, principalmente composta de mano-oligossacarídeos (MOS) e altos níveis de β-glucanas.
As β-glucanas são conhecidas como moduladores ou estimulantes do sistema imunológico. São estimulantes naturais e efetivas do sistema imune inato e quando entram em contato com macrófagos, que reconhecem as ligações β-1,3 e 1,6 (Petravic-Tominac et al., 2010), essas células são estimuladas e produzem algumas citocinas que iniciam uma reação em cadeia, induzindo imunomodulação e melhorando a capacidade de resposta do sistema imune inato. Outro benefício das β-glucanas é a capacidade de ligação a micotoxinas, por ligações de hidrogênio e de Van der Waals. Esse modo de ação garante ampla adsorção de diferentes micotoxinas. A maioria dos adsorventes disponíveis no mercado mundial contém aluminossilicatos, que são altamente eficientes na adsorção de micotoxinas polares (como as aflatoxinas), mas eles também podem se ligar a vitaminas e minerais presentes na dieta. De modo diferente, as β-glucanas não se ligam a vitaminas e minerais, e ainda possuem maior área de superfície do que os aluminossilicatos, proporcionando melhor eficiência de adsorção.
O MOS, como mencionado acima, também são componentes estruturais da parede celular de levedura e são conhecidos por sua capacidade de se aglutinar a patógenos (com fímbria tipo 1), como diversas cepas de Salmonella e Escherichia coli. Os MOS oferecem um local de ligação aos patógenos, impedindo a colonização do epitélio intestinal, sendo que as bactérias aglutinadas são excretadas junto com a porção não digerível das fibras.
Desta forma, a suplementação com parede celular de levedura com alta concentração de MOS e β-glucanas pode estar associada à redução de contaminação por alguns patógenos e modulação do sistema imune. Esse tipo de resposta é especialmente importante em animais em fase inicial de crescimento e reprodução, períodos de estresse, desafios ambientais e pode até mesmo melhorar a resposta a doenças imunossupressoras, atuando como agente profilático e aumentando a resistência do animal, bem como minimizando outros danos (como queda no desempenho ou altas taxas de mortalidade).
Além da saúde intestinal, que irá refletir na saúde geral do animal, a flora existente no rúmen deve ser considerada um fator complexo em todas as respostas da vaca leiteira. Entre os benefícios esperados da suplementação com RumenYeast® estão a modulação e o auxílio da flora existente no rúmen para acelerar a digestão de celulose e hemicelulose, estabilizar o pH do rúmen em condições de desjejum ou estresse térmico e aumentar a produção de ácidos graxos voláteis (Dias et al., 2017a,b).
No atual contexto do mercado internacional de laticínios, aumentar a produção de leite em termos de quantidade, muitas vezes, deixou de ser relevante devido aos baixos preços. Agora, mais do que nunca, produzir mais gordura e proteína no leite é uma forma comprovada de aumentar a lucratividade do rebanho. A melhor forma de aumentar a gordura e a proteína no leite é promover a fermentação no rúmen com foco especial na digestão das fibras.
É importante observar que a gordura encontrada no leite é proveniente de três fontes: ácidos graxos de novo sintetizados na glândula mamária da vaca (C4 a C14 de cadeia curta), que contêm cerca de 20-30% de ácidos graxos totais do leite; ácidos graxos pré-formados (C18:0, C18:1 e C18:3 de cadeia longa), que representam 35-40%; e o grupo misto de ácidos graxos (C16), que contabiliza 35%. A literatura demonstra que a porcentagem de ácidos graxos de novo no leite está positivamente correlacionada à porcentagem de gordura e proteína verdadeira no leite. Também foi indicado que esses ácidos graxos de cadeia curta explicam quase 50% da variação na porcentagem de gordura do leite e cerca de 68% da variação na proteína verdadeira do leite. Os ácidos graxos de novo são cruciais e podem ser utilizados para monitorar o manejo do rebanho. Na verdade, a gordura e a proteína do leite são dois impulsionadores-chave da lucratividade da indústria de laticínios, positivamente relacionados à renda líquida do leite sobre os custos com alimentação. A quantidade de ácidos graxos de novo reflete o funcionamento do rúmen, especialmente a fermentação das fibras que produz acetato e butirato, os componentes que formam os ácidos graxos. A proporção relativa de ácidos graxos de novo na gordura do leite reflete quão bem a vaca está sendo alimentada e manejada para fermentação ideal no rúmen. Níveis mais altos de ácidos graxos de novo no leite refletem condições mais saudáveis do rúmen (Blezinger and Bonato, 2017).
A digestibilidade intrínseca da fibra da forragem está condicionada à genética vegetal, à maturidade no momento da colheita e ao ambiente de cultivo, que determinam a quantidade de lignina. O pH do rúmen possui grande impacto na fermentação da fibra. Sendo assim, uma alimentação controlada de forma ineficiente pode influenciar o pH do rúmen e a subsequente digestão das fibras, bem como a produção de proteína microbiana. Ainda, pesquisas recentes demonstraram que práticas de alimentação ou manejo que reduzem o pH resultam em acúmulo do isômero CLA, que possui um poderoso efeito supressor na gordura do leite. Algumas práticas de manejo podem melhorar as condições do rúmen para evitar superlotação, fornecer alimentação mais frequentemente, fornecer dieta balanceada com teores adequados de gordura e fibra (e níveis adequados de FDN fisicamente efetivo) e o uso de aditivos/componentes na ração para auxiliar a fermentação no rúmen.
Diversos estudos demonstraram (Dias et al., 2017a,b) que RumenYeast® pode aumentar a produção de leite em +2 kg/vaca/dia (estudos em laboratório e estudos em campo (Tabela 1)), bem como a qualidade do leite (gordura e proteína), reduzir a CCS e a incidência de doenças, e também a contaminação por micotoxinas no leite (Gonçalves et al., 2017).
Tabela 1. Maior produção de leite em vacas que receberam dietas suplementadas com RumenYeast® em todo o mundo
A combinação de uma nutrição adequada do rúmen com o fortalecimento do sistema imunológico do animal resulta em maior produção diária de leite, além de reduzir as preocupações com a presença de resíduos no leite, um fator importante para conquistar um mercado consumidor cada vez mais exigente.
Referências Bibliográficas
Blezinger S.B. and Bonato, M.A. Optimising milk fat strengthens dairy profits. All about feed, feed additives, junho de 2017.
Dias et al. 2017 (a). Effects of supplementing yeast culture to diets differing in starch content on performance and feeding behavior of dairy cows. J. Dairy Sci. 101:1–15.
Dias et al. 2017 (b). Effect of supplemental yeast culture and dietary starch content on rumen fermentation and digestion in dairy cows. J. Dairy Sci. 101:1–21.
Gonçalves, B.L., et al., 2017. Effects of different sources of Saccharomyces cerevisiae biomass on milk production, composition, and aflatoxin M1excretion in milk from dairy cows fed aflatoxin B1. Journal of Dairy Science, 100 (7): 5701–5708.
Petravić-Tominac, V. et al., 2010. Biological effects of yeast β-glucans. Agriculturae Conspectus Scientificus, 75 (4).
Publicado en 11 octubre de 2018